TRAUMAS LONGE DO TRATO VOCAL PODEM AFETAR A VOZ?
Muitas lesões por trauma que não acometem o trato vocal podem afetar a voz. As lesões cranianas, cervicais, torácicas, abdominais, lombares e de membros também podem afetar a técnica vocal e serem responsáveis por disfonias que levam o paciente a procurar atendimento médico.
TRAUMATISMOS CRANIANOS
É do conhecimento de todos, que traumatismos cranianos graves, que levam a perda da consciência, podem ser fatais. Mas, mesmo quando as pessoas se recuperam desses traumas, que podem ser abertos ou fechados, as disfunções cerebrais podem persistir por vários meses ou mesmo se tornarem permanentes. Essas disfunções incluem leves distúrbios de personalidade, labilidade emocional, alterações de memória, dificuldades durante a leitura e fala e em alguns casos, alteração da atenção. Tais deficiências podem trazer importantes impedimentos para o canto saudável. O traumatismo cranioencefálico também pode se associar à perda auditiva, que é mais provável de ocorrer se houver um golpe diretamente na região do ouvido, grave o suficiente, para causar desmaios. Caso haja perda auditiva, reabilitação e orientações geralmente evitam problemas vocais.
TRAUMATISMOS FACIAIS
Lesões nasais, como uma fratura, por exemplo, podem levar a obstrução nasal. Essa obstrução altera a produção de certos sons, e obriga o cantor acometido a favorecer a respiração oral, inalando assim um ar frio, seco e não filtrado, funções essas exercidas pela respiração nasal, fisiológica. Como consequência há irritação na garganta e possivel alteração de voz, especialmente em ambientes secos ou empoeirados.
Traumas na cavidade oral, incluindo os traumas cirúrgicos, como as amigdalectomias, podem alterar a voz do cantor. A forma e a flexibilidade dos músculos da língua, palato e faringe são importantes para a emissão vocal. Embora as alterações na voz causadas por pequenos inchaços ou cicatrizes nessas áreas sejam geralmente mais perceptíveis para o cantor ou para o ator do que para o público, elas são perigosas, já que os artistas tendem a tentar compensá-las. Muitos cantores desenvolvem comportamentos hiperfuncionais na tentativa de superar pequenas alterações.
TRAUMATISMOS CERVICAIS
Lesões cervicais traumáticas (por aceleração/desaceleração), após a fase de maior gravidade, frequentemente levam a alterações na técnica vocal, com consequente fadiga vocal, perda de extensão e dificuldades gerais no canto. Essas alterações vocais derivam do espasmo muscular, postura cervical anormal secundária a dor e comportamentos hiperfuncionais secundários as lesões.
TRAUMATISMOS TORÁCICOS E ABDOMINAIS
Traumas torácicos e abdominais, podem ocorrer através de acidentes automobilísticos, acidentes em geral e devemos considerar tambem as alterações cirúrgicas. Geralmente trazem como consequência uma disfunção muscular temporária, mas algumas lesões podem gerar alterações residuais.
Considerando os traumas torácicos, por exemplo, se todo ou parte de um pulmão for perdido, a técnica vocal provavelmente precisará ser modificada. Problema semelhante pode ocorrer se a função pulmonar estiver prejudicada devido a inalação de fumaça. Uma das condições de maior risco para o abuso vocal se dá, justamente, quando o cantor esta com dificuldades respiratórias. Cantores com comprometimento pulmonar, mesmo que leves, devem atentar-se durante a emissão das palavras, permitindo respirações extras ao invés de cantar frases mais longas, como talvez fizesse anteriormente. Além disso, aconselha-se um programa vigoroso de reabilitação aeróbica supervisionada pela equipe médica.
Após lesões abdominais, podem ocorrer alterações da parede abdominal permanentes, como o surgimentos de hérnias, por exemplo, esta condição pode interferir no mecanismo de suporte e requer reparo cirúrgico.
TRAUMATISMOS DORSAIS
Os músculos dorsais são parte fundamental do suporte vocal. Lesões dorsais torácicas, lombares e sacrais podem interferir no desempenho do canto. Tais injurias podem causar disfunção nervosa e consequente fraqueza nos músculos usados para respiração e suporte. Dor torácica pode limitar a inspiração, e dores lombossacras podem impedir a contração adequada da musculatura abdominal e dorsal fundamentais para o apoio. Todas essas alterações podem afetar o equilírio da função muscular, essencial para uma fonação eficiente.
Todas essas formas de trauma e suas consequências a longo prazo, podem gerar problemas a qualidade vocal, principalmente quando ocorre a tentativa inconsciente de compensar os déficits adquiridos, levando a hiperfunção, o que não só é contra producente em termos de qualidade e resistência, mas também pode levar a lesões estruturais das pregas vocais.
Fonte: 50 ways to Abuse your voice. (Robert T.Sataloff, Mary J.Hawkshaw, Jaime Eaglin Moore, Amy L.Rutt)