Malefícios da automedicação e efeitos vocais de alguns medicamentos

Embora seja verdade que cantores experientes, com acompanhamento otorrinolaringológico regular, geralmente percebem seus sintomas iniciais e já conhecem seus tratamentos usuais, realizar a auto prescrição pode ser muito perigoso. Infelizmente a automedicação acontece com alta frequência em nosso meio.  Devemos lembrar que medicamentos são produtos químicos. Nas doses corretas e momentos certos, eles podem realizar milagres. No entanto, se usados na pessoa errada, na dose inadequada, no momento e pela duração incorreta, eles podem ser muito prejudiciais. Emprestar medicamentos de seus familiares, amigos ou colegas e pesquisar indicações na internet são especialmente danosos, pois além de possivelmente inadequados, podem conter componentes alergênicos desconhecidos.

Partindo-se do pressuposto que os medicamentos são prescritos por seu médico e em circunstâncias especiais, vamos agora ressaltar os remédios que são utilizados de forma abusiva com maior frequência e que devem ser evitados, no formato de auto prescrição, pelos indivíduos que usam suas vozes profissionalmente ou de modo intensivo em suas ocupações profissionais. São eles:

Antibióticos

São prescritos em estados infecciosos e devem ser tomados apenas na dose e pelo tempo indicado pelo médico. Antibióticos têm sua ação em quadros bacterianos e não servem para infecções virais, como as gripes e resfriados comuns.

Profissionais da voz com dores de garganta podem se sentir tentados a tomar antibióticos objetivando melhorar sua qualidade vocal, porém antibióticos podem ser desnecessários ou mesmo se usados da maneira incorreta, podem piorar a infecção, causar uma série de efeitos colaterais indesejáveis ou mesmo reações alérgicas.

Corticosteroides

Reduzem a inflamação e podem melhorar a qualidade vocal por redução do edema das cordas vocais. No entanto, eles também reduzem a habilidade corporal de responder às infecções. Eles devem ser utilizados apenas em situações específicas, nas doses apropriadas e frequentemente em combinação aos antibióticos. Sua decisão de uso objetivando melhora da qualidade vocal raramente deve ser tomada sem a realização de exame físico com a apropriada visualização das cordas por um médico especialista.

Anti-histamínicos

São empregados nos processos alérgicos e devem ser utilizados excepcionalmente, pois provocam uma redução no volume e um espessamento das secreções de lubrificação do trato respiratório, incluindo as cordas vocais, sendo um agente de ressecamento da via aérea.

Além disso, frequentemente são associados aos descongestionantes podendo causar tremores, perceptíveis na voz.

Essa classe de medicamentos deve ser utilizada em cantores apenas com indicação específica e de preferência não ser utilizado pela primeira vez logo antes de uma apresentação.

Diuréticos

Devem ter seu uso controlado. Os indivíduos que tomam diuréticos referem redução na saliva, ressecamento da boca e da garganta, produção de secreções densas e viscosas e pigarro persistente.

Analgésicos

São empregados para o alívio da dor em geral e de forma usual para as dores de cabeça.

A Aspirina® é taxativamente contraindicada pela Fundação Americana de Voz – The Voice Foundation – porque o ácido acetilsalicílico aumenta o risco de sangramentos e poderia favorecer uma hemorragia nas pregas vocais. Vários remédios vendidos livremente nas drogarias, tanto para a dor como para gripes e resfriados, contêm o ácido acetilsalicílico. Leia a bula e opte por medicações que contenham dipirona ou paracetamol.

Descongestionantes nasais tópicos – Sprays

Devem ser usados ocasionalmente nas crises de rinite ou resfriados e gripes que provocam o bloqueio da via respiratória nasal. Porém, o uso dessas substâncias não deve se estender por mais de cinco dias, a fim de evitar a “dependência”. O uso prolongado provoca o chamado “efeito rebote”, que é um edema (inchaço) da mucosa quando a medicação é interrompida, provocando uma obstrução nasal ainda mais intensa. Deve-se ainda lembrar que os descongestionantes têm como efeito secundário um ressecamento da mucosa nasal e laríngea, dificultando a vibração livre das pregas vocais.

Antitussígenos

São supressores da tosse, esta pode ser altamente irritativa para as pregas vocais, porém, esses remédios também causam ressecamento como efeito secundário negativo.

 Vitamina C

Consumida em alta dosagem também pode produzir um efeito secundário de ressecamento do trato vocal.

Hormônios

Medicações que podem causar profundas alterações na qualidade vocal, por modificações nas estruturas do aparelho fonador. Os andrógenos exercem um efeito acentuado na voz feminina, podendo deixar sua frequência muito grave, na faixa da voz masculina, ocorrendo um processo de virilizarão vocal.  Embora muitas vezes usados no tratamento de disfunções da menopausa ou em alguns tipos de câncer, podem ocorrer mudanças vocais profundas e nem sempre reversíveis, o que pode limitar o uso profissional da voz.

Tranquilizantes, calmantes e remédios para dormir

Devem ser de uso absolutamente excepcional. Embora tais medicamentos possam auxiliar o repouso e deixar o indivíduo em condições de melhor controle emocional, sua ação no sistema nervoso central pode afetar de modo evidente o controle da produção da voz.

 

Os efeitos dos medicamentos e as reações colaterais variam em função de cada indivíduo. Toda a atenção é necessária para se tomar o medicamento correto, na dosagem certa para uma situação específica, procurando-se controlar os efeitos colaterais indesejáveis e sempre consultando seu médico antes de ingerir qualquer medicação.

Fonte: Livro: Higiene Vocal – Cuidados com a Voz.

Livro: 50 ways to Abuse your voice.